Metaversos na Educação: Desafios e Possibilidades Pedagógicas à Luz da Investigação Académica

 

Metaversos na Educação: Desafios e Possibilidades Pedagógicas à Luz da Investigação Académica

O conceito de metaverso, entendido como um ambiente imersivo tridimensional partilhado, persistente e interativo, tem vindo a despertar renovado interesse no campo educativo, especialmente após o avanço de tecnologias como a realidade virtual (VR), realidade aumentada (AR) e inteligência artificial (IA). Ainda que a ideia não seja recente, tendo ganho projeção nos anos 2000 com plataformas como o Second Life, é na década de 2020 que o debate sobre o seu potencial educativo se intensifica, impulsionado pela maturidade tecnológica e pela ubiquidade dos dispositivos móveis.

Romero Tori (2022) observa que “o retorno do interesse pelos metaversos veio acompanhado de desinformações, confusões conceituais e falsas promessas”, o que exige um esforço crítico por parte da comunidade académica para clarificar conceitos e examinar as reais potencialidades pedagógicas dessa tecnologia. De facto, os metaversos, enquanto espaços virtuais que simulam a presença física e promovem a interação social em tempo real, configuram-se como cenários promissores para práticas de ensino e aprendizagem mais envolventes, personalizadas e colaborativas.

Do ponto de vista pedagógico, o metaverso oferece oportunidades relevantes para a criação de ambientes de aprendizagem autênticos, nos quais os estudantes podem experienciar simulações, desenvolver competências transversais e participar em comunidades virtuais de prática. De acordo com Tori (2018), estas tecnologias podem promover “experiências imersivas e significativas que ampliam os contextos de aprendizagem para além das fronteiras físicas das instituições”.

No entanto, a integração do metaverso na educação requer uma abordagem crítica e fundamentada. Como defendem Moreira e Monteiro (2022), “a simples introdução de tecnologias emergentes não garante inovação pedagógica, sendo necessário articular essas ferramentas com modelos educativos sólidos que valorizem a participação ativa do estudante e a construção colaborativa do conhecimento” (p. 8).

A partir de uma perspetiva construtivista e sociointeracionista, o metaverso pode ser concebido como um ambiente propício à aprendizagem situada, em que o contexto e a experiência são centrais para a aquisição de conhecimentos (Brown, Collins & Duguid, 1989). A utilização de avatares, a gamificação e os objetos virtuais de aprendizagem potenciam o envolvimento cognitivo e emocional dos estudantes, promovendo a motivação e a autorregulação.

Contudo, importa salientar os desafios associados à adoção de metaversos na educação, entre os quais se destacam: a acessibilidade tecnológica, a formação de professores, a privacidade dos dados e a sustentabilidade pedagógica das práticas desenvolvidas. Como alertam Damar & Abidin (2023), “o fascínio tecnológico não pode obscurecer a necessidade de práticas educativas éticas, inclusivas e eficazes” (p. 142).

Neste sentido, é fundamental adotar uma postura de experimentação crítica e reflexiva, com base na investigação académica e no diálogo interdisciplinar. A proposta de Tori (2022) para uma “Educação Sem Distância”, em que os ambientes virtuais possam efetivamente aproximar os sujeitos do conhecimento e uns dos outros, deve orientar os usos pedagógicos dos metaversos, evitando a sua apropriação meramente mercantil ou superficial.

Em síntese, os metaversos representam uma fronteira emergente para a inovação educativa, com potencial para transformar as práticas de ensino-aprendizagem. No entanto, o seu uso eficaz depende da construção de estratégias pedagógicas fundamentadas, do investimento na formação docente e da garantia de acessibilidade e equidade. Organizar os conceitos e discutir as possibilidades educativas à luz do conhecimento científico, como desafia Romero Tori, é condição essencial para que o metaverso se afirme não como uma moda passageira, mas como um recurso significativo no ecossistema educacional contemporâneo.

Referências

  • Brown, J. S., Collins, A., & Duguid, P. (1989). Situated cognition and the culture of learning. Educational Researcher, 18(1), 32–42. https://doi.org/10.3102/0013189X018001032

  • Damar, M. & Abidin, Z. (2023). Virtual worlds and pedagogical integration: Evaluating ethical and inclusion challenges in metaverse-based learning environments. Journal of Educational Technology and Innovation, 2(3), 135–149.

  • Moreira, J. A., & Monteiro, A. R. (2022). Ambientes de aprendizagem híbridos: princípios e práticas. In A. Moreira, A. Ribeiro, & L. Ferreira (Eds.), Educação Digital e Hibridismo Pedagógico (pp. 3–18). EDUA.

  • Tori, R. (2018). Educação sem distância: as tecnologias interativas na redução de distâncias em ensino e aprendizagem. São Paulo: Senac São Paulo.

  • Tori, R. (2022). Metaverso na educação: desafios, possibilidades e armadilhas. In Revista Educação & Tecnologia, 2(1), 5–12.

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